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“God is in
the rain”
Podia usar dezenas de frases para iniciar este texto e esta,
para mim que não sou uma pessoa especialmente religiosa, pode soar como a pior
forma de hipocrisia, mas garanto-vos que não é. Neste caso em particular,
representa o momento da libertação suprema naquele que é sem duvida um dos
filmes da minha vida, V for Vendetta, que, mais que um simples filme, é uma
lição de luta pelo que realmente importa, pela salvação dos valores que
deveriam imperar no coração de cada um de nós. Mais do que um filme sobre
vingança, V for Vendetta é um filme sobre amor, coragem e sobre a forma
incisiva como nos mostra que a força de uma ideia pode fazer a diferença. Nem que para isso ela tenha de estar escondida atrás de uma máscara...
“God is in the rain” representa o momento em que nos
libertamos de tudo o que nos foi imposto por um grupo de cobardes poderosos,
cujo interesse será sempre o de nos limitar corrompendo a nossa mente até à
submissão total e completa. Até nos esquecermos de quem somos, alterando o
propósito da nossa existência ao ponto de servir apenas um único propósito, o
que eles próprios conceberam como válido.
Para todos os efeitos somos livres, é isso que nos é
transmitido pela “liberdade” de andarmos na rua, pela “liberdade” de
escolhermos o que devemos fazer da nossa vida, pela “liberdade” de sermos nós
próprios e escolhermos os nossos caminhos. Para, Deus nos livre, não
mergulharmos no caos total e completo da arbitrariedade anárquica de uma
sociedade sem regras, limites e, no seu extremo mais negro, incontrolável.
“O povo não deve temer o governo, o governo é que deve temer
o povo.”
E o governo teme o povo. Se não temesse não faria um esforço
tão ignóbil de o subjugar. E para que não se perceba demasiado esse receio usa
a principal arma contra aqueles que poderão insurgir-se contra eles, o Medo. O
esquema é simples e facilmente compreensível.
Primeiro é preciso “comprar” o maior numero de pessoas na
sociedade. Lançar a teia e tentar que ela abranja a fatia mais representativa
de uma sociedade. Demora muito tempo e é sem duvida o mais complicado de se
fazer mas, convenhamos, já andamos a ser iludidos há séculos Conseguido isto,
o resto é fácil e segue um rumo natural. Tão natural que ninguém o põe em causa
e nunca, em nenhuma circunstância, ele será atribuído a alguém em particular a
não ser ao nosso próprio livre arbítrio.
Claro que alimentar uma sociedade é difícil, impossível, por isso haverá alturas em que é necessário fazer uma limpeza. Depois de dar conforto e segurança a uma grande parte da sociedade os governantes não necessitam de fazer grande coisa, apenas lançar as directrizes básicas para manter essa mentira e esperar que tudo o que foi usado para comprar a liberdade de cada pessoa seja suficiente para manter a legitimidade de um governo, por forma a criar leis que impeçam a outra parte da sociedade de se revoltar, sem serem alvos da critica e censura da maioria.
Isto consegue-se mantendo as pessoas atadas. O governo não é estúpido e sabe perfeitamente que o maior perigo é enfrentar uma sociedade que
já não tem nada a perder. Enfrentar uma pessoa é fácil mas enfrentar um grupo
cada vez maior de pessoas que não tem nada a perder seria catastrófico. Por
isso não vão tirar tudo, apenas uma parte. Vão vender-nos o medo do caos, da
anarquia e da revolta cada vez mais caro. Isso vai dar-lhes legitimidade para
continuar a restringir a nossa capacidade de pensar individualmente (cada vez
começa mais cedo e não tarda já o conseguem fazer até mesmo nas barrigas de
cada mãe) impondo leis que supostamente visam proteger-nos mas que, no fundo, apenas têm o efeito de nos castrar, censurando tudo o que possa por em causa o
modelo de poder instituído e nos lembre que em tempos fomos verdadeiramente livres para pensar, para agir e para decidir.
O problema é que daqui a pouco já nada nos libertará.
Poderíamos sempre apelar ao passado mas, em pouco tempo, nem o passado poderá
desarmar-nos desta prisão. Em breve já não nos lembraremos quem fomos, porque é
que lutávamos e, mais importante, esqueceremos o que realmente significava ser
livre. E quanto mais tempo passar, mais teremos a perder.
O que me leva a outro ponto, o facto das pessoas estarem a “fugir”.
Emigrar é a solução encontrada para melhorar a condição de vida mas é um
problema quando as pessoas que o fazem são aquelas que, provavelmente, em melhor
condição estariam para ajudar a mudar as coisas. O Estado sabe disso e não me
surpreende que até o incentive. Estas são as pessoas que poderiam mudar alguma
coisa, que poderiam lutar. São jovens, ainda têm capacidade de pensar, algo que
nas novas gerações se está a perder irremediavelmente e, mais importante,
apanharam a fase da transição, conhecem as ameaças e sentem a transformação. Esses são a maior ameaça, aqueles que sabem que
é possível fazer melhor, aqueles que mantêm presente os símbolos do passado, símbolos esses que aos poucos se começam a perder, símbolos que foram atirados para um qualquer lugar
até que todos se esqueçam deles e daquilo que representavam.
Por ainda acreditar que é possível mudar, por ainda acreditar que as palavras têm valor e força para mudar algo e essencialmente por acreditar que uma ideia pode fazer a diferença, mantenho-me aqui e não penso ir a lugar nenhum!
"Se fugir eles ganham".