![]() |
imagem da net |
E se de repente sentíssemos que, num curto espaço de
tempo, já vivemos tudo o que havia para viver numa vida inteira?
Se sentíssemos que experienciámos todas as emoções possíveis num
poderoso concentrado de vida durante esse período e que, agora, nada mais há
para nós senão tentar alimentar o corpo e a alma ligados à máquina da superficialidade
de uma vida sem qualquer estímulo?
A sensação de que nos foi dado tudo para viver e não sobra mais
nada…
Pois é exactamente essa a sensação que me envolve neste momento, a
sensação de vazio. Devia sentir-me privilegiado por ter tido tanto em tão pouco
tempo mas a única coisa que consigo sentir é um nó apertado que me tira o ar e uma luz violenta que me cega, impedindo-me de ver qualquer sinal do que vai acontecer daqui para a frente.
Tudo o que penso é vago, confuso, incerto. Formou-se à minha volta uma miscelânea de ingredientes tão desajeitadamente misturados que tudo é indistinto. A névoa é densa e baralha os sentidos. A incerteza e a dúvida tornaram-se uma companhia inquietante. A única.
Não adianta dizer que não o desejo. Não adianta dizer que há mais
para viver. Já não me convenço disso. Quero aquilo que ninguém ousa aceitar por
cobardia mas sou cobarde para aceitar de forma incondicional a única coisa que até hoje foi incomensuravelmente
real.
Quem me dera saber como...
E, por estupidez natural, por receio, por mágoa, por revolta ou
simplesmente por não ser diferente de todos aqueles que ignoro, fujo.
Desfaço-me em bocados que se espalham por caminhos indiferenciados.
Já não sou
eu, já não sou nada. Não é uma escolha. É o corolário natural de opções (in)conscientes
que confluem para um deserto imenso de trevas. Chegando lá a única coisa que posso desejar é uma morte rápida, evitando mergulhar na completa insanidade para nunca me esquecer que nada,
jamais, atingirá o patamar de simplicidade e beleza que, em tantos momentos, me
preencheram e fizeram sentir VIVO.