segunda-feira, 30 de agosto de 2010

All Souls go to Hell ;)


Depois de um mês sem por aqui os pés devido a um mês de Agosto passado a mil, entre trabalho, uns dias na aldeia, uma relação desgastante (no bom sentido claro) e muita borga sentei-me finalmente à frente do computador para escrever. Devia colocar umas quantas bolinhas neste texto ou um aviso "Abrir só se for maior de idade e tiver graves problemas mentais"! E aí vai mais um devaneio passado já há uns dias...

"Hoje acordei transpirado! Agitado! Inconstante…
Uma inquietude própria de quem tem plena consciência que acaba de cometer um pecado capital como um homicídio, um roubo escandaloso ou ouvir um qualquer cd dos Delfins.
Até hoje tenho-me contido para não divulgar os estranhos devaneios que me assaltam durante a noite, uns porque não me lembrava da maioria do sonho, outros pelo ridículo ou falta de conteúdo, mas, como me parece que já não sou capaz de chocar ninguém, hoje é o dia em que abro o capítulo do meu imaginário (inimaginável para a maioria das pessoas) e do sobrenatural! Pelo menos daquilo que me lembro (e já não é pouco)!

Nos últimos dias os sonhos voltaram em força. Sonhos que até a mim causam estranheza ao ponto de acordar em sobressalto e completamente ensimesmado! Talvez por andar mais cansado tenho passado mais tempo na cama (desperdício bem sei) e de forma surreal, inesperada e completamente desmedida o meu inconsciente disparou e levou-me a vaguear por Mundos só comparáveis a uma junção dos filmes de Tim Burton com a banda sonora original de uma qualquer telenovela da Tvi e um casal de ciganos com 8 filhos a requerer o rendimento mínimo garantido num balcão da Segurança Social…
Apesar de tudo já devia aceitar estes devaneios como naturais já que acompanham de forma mais ou menos harmoniosa a minha cada vez mais decrépita mente…

Fica o sonho, ou pelo menos aquilo que me consigo lembrar!

“Bato a porta e saio para mais um dia de trabalho. Estou atrasado e por isso vou em passo apressado pela rua abaixo. Sinto-me leve e deslizo pelo passeio como se flutuasse ao longo da rua cinzenta e desfocada. Nem sequer sinto os pés no chão ou o som dos sapatos. Algo de muito estranho se passa mas não consigo discernir o que tanto me perturba enquanto sigo caminho até ao trabalho. Ao passar no espelho de uma montra percebo a razão da minha inconstância!
Nem quero acreditar no que estou a ver!

As únicas peças de roupa (ou adereços, como preferirem) que tenho no corpo são uns boxers justos do Dartacão com a espada em riste e um chapéu da marinha na cabeça!!!
Devia ficar em choque e correr rapidamente para casa mas a minha reacção ao olhar para o espelho foi franzir o sobrolho e pensar que até nem estava mal! Talvez as pessoas à minha volta pensassem o mesmo porque mantinham as suas rotinas normais e mesmo quando olhavam para mim nada mudava nas suas expressões.
Pensei que como acabei de me mudar de uma pequena aldeia para uma grande cidade isto fosse natural e já ninguém dava muita importância a este facto pelas rotinas já tão intrínsecas em cada um.

De qualquer forma decido que dada a indumentária, seria melhor não ir trabalhar! E é no preciso momento em que decido isso que as pessoas começam a agitar-se, a olhar de soslaio e a cochichar entre elas. Algumas até se dirigem a mim em tom insultuoso e com uma maledicência desmesuráveis. Outras riem-se com sarcasmo, outras que apontam o dedo e ainda outras que parecem capaz de me queimar na praça pública!
Apesar disso permaneço calmo e sereno, apenas completamente estarrecido pelas expressões e actos incriminatórios daquelas pessoas.

Entretanto o que aconteceu a seguir, não sei se por algum desejo reprimido ou por influência de uma genial série de tv, até a mim me choca.

Salto deste cenário e dou por mim num caminho longo, rodeado de árvores altas e sebes rectangulares cortadas de forma perfeita. Ao fundo vislumbro um edifício imponente. Resolvo ir até lá, podia ser que arranjasse umas roupas!
Ao aproximar-me confirmo que se trata de uma igreja enorme, construída ao bom estilo manuelino, com um portão enorme na entrada já aberto e uma pequena porta de madeira pela qual entro.
Ao percorrer a passadeira percebo que as estátuas e figuras religiosas que me rodeiam são um pouco diferentes do habitual. Os anjos têm todos pequenas pilas erectas e estão completamente nus. As figuras femininas também completamente desprovidas de roupa estão com expressões de espanto, mamilos arrebitados e pernas abertas de onde sobressaiem volumosas cabeleiras pretas!
“Com mil raios, onde vim eu parar?! – penso”
Mas ao aproximar-me do altar reparo em algo ainda mais estranho. Um Jesus Cristo preto!! Vestido, é certo, e fiel à imagem original, mas tão escuro que tinha 3 holofotes directamente focados nele!

Tento dissociar-me disso mas no instante em que me ia dirigir à sacristia para procurar algumas roupas Jesus Cristo começa a falar comigo!!!
- Que fazes por aqui? Precisas de ajuda? – diz ele.
Abro a boca de espanto e fixo o meu olhar nos lábios escuros que mexiam e ainda não acredito…
- Vais dizer alguma coisa ou vais continuar com cara de parvo a olhar para mim? – pergunta impaciente.
- Mas... tu és preto! Nunca vi nenhum Jesus preto, mesmo aquele do Benfica é branco e tem cabelo grisalho. Aliás, amarelo. Aliás, branco. Ai, nem sei…
- E que tem ser preto? É por esse tipo de discriminação que este Mundo está em total decadência de valores! Só por isso vais rezar cem pais nossos e cem avé marias!
- Porra… peço desculpa… possas, porque tamanho castigo? – pergunto revoltado e com surpresa.
- Puseste em causa o meu nome, a minha magnificência e divindade! – responde aborrecido.

Antes que agravasse ainda mais a minha situação acato o castigo e preparo-me para rezar quando do nada aparece uma freira com as mãos cruzadas à frente e dirige-se a mim…
- Olá João, tenho estado à tua espera!
- À minha espera? Só entrei para procurar umas roupas e de repente ali o teu marido começa a falar comigo! Ainda por cima obriga-me a rezar sem qualquer motivo válido!
- Não ligues, ele às vezes consegue ser bastante intransigente, talvez devido a uma certa frustração por ser o único Jesus Cristo preto, acho que isso continua a incomoda-lo. Mas diz-me, além da roupa há algo mais que te preocupe? – pergunta ela com uma voz suave e extremamente sensual.
- Bem, há de facto algumas questões mas não quero aborrece-la com isso.
- Não te preocupes João, é exactamente para isso que cá estou! – insiste.
- Há de facto uma coisa que me preocupa, namoro há uns dias mas ainda não consegui leva-la para cama, o que é de facto uma chatice porque foi exactamente por isso que comecei esta relação. Agora diz-me que sexo só depois de casarmos e até estou disposto a isso porque ela vale seguramente o sacrifício!
- Isso é realmente um problema e não me parece que rezar resolva o problema.
- Pois, também não me parece que seja a solução! – digo em forma de desabafo.
- E que tal um broche? – diz ela
- Ahn? – pergunto como se não tivesse entendido.
- Um broche, ia fazer-te sentir melhor?
- Tu... fazeres-me um broche?? – pergunto ainda incrédulo.
- Algo me diz que ele não se vai chupar sozinho – diz, soltando os cabelos compridos e lançando-os para trás das costas com um movimento de uma sensualidade arrepiante.
- Sim, quer dizer, não – exclamo atónito e até confuso – Mas, tu és uma freira? Uma freira toda boa, sem dúvida… E ali o teu marido? – pergunto com algum receio.
- Sou casada com ele mas não lhe pertenço.

Nesse momento ela baixa-se, desce os meus boxers enquanto eu coloco o chapéu da marinha à frente dos olhos do Jesus preto e exclamo num misto de satisfação e inabalável certeza:

“Meu Deus do Céu João, vais arder no Inferno…”"

(**)