terça-feira, 23 de abril de 2013

Começar após o Fim!

imagem da net


"Um dia tudo isto acaba, apenas para o que essencial possa prevalecer"

E se um dia acordassem e tudo estivesse diferente? Se todo o conforto, segurança e rotinas de anos desaparecessem? Se fossem desligados da vida tal como a conhecem, sem sistema financeiro, sem bancos, sem políticos, sem tecnologia, sem patrões, sem... nada?!
Deus nos livre de tal catástrofe, pensará a maioria.
Pois eu pensei num dia assim e sinceramente não me pareceu assim tão mau. Naturalmente que passar tantos anos enfiado no meio de tudo isto cria resistências naturais que se agarram a todos os poros do corpo e demora até conseguir sacudi-las do corpo e da mente, mas que é aliciante pensar em desligar por completo de tudo... não tenho dúvidas.

O Portugal Rural esta a perder-se e há poucos valores que lamente tanto que se percam como esse em particular. Perde-se a capacidade do verdadeiro trabalho, perde-se o contacto com a TERRA, perde-se a noção da importância da Natureza e de tudo o que ela proporciona e as pessoas acabam por perder a ingenuidade que deveria ser comum a todos pois acrescenta algo de puro a cada um de nós.

Um dia (há-de ser) Assim:

Acordo cedo, tão cedo que ainda esta escuro. Tento acender a luz mas não encontro o interruptor. Às apalpadelas tento encontra-lo, mas a pouca luz de um dia que ainda nem começou não me ajuda a encontrá-lo. Desço à cozinha para procurar uma vela, mas sem sucesso. Depois de muito esforço, muitos tropeções e apalpadelas finalmente consigo encontrar o que parece ser uma velha candeia a óleo. Apesar de sentir algumas dificuldades, consigo finalmente acende-la. Procuro o interruptor da cozinha mas também não o encontro. Reparo também que não existe uma única lâmpada pendurada no tecto. Nem qualquer tomada espalhada pela parede.
Procuro o frigorífico para beber um pouco de leite mas, surpresa, também não tenho frigorífico.  A pouca luz que a velha candeia me concede permite-me apenas encontrar umas peças de fruta em cima da mesa. Sento-me num velho banco de madeira e como uma laranja.

O dia começa finalmente a clarear. Com luz será mais fácil pensar o que está a acontecer…
Confirma-se, não tenho frigorífico, nem qualquer electrodoméstico. A cozinha tem apenas uma mesa, dois velhos bancos de madeira e prateleiras com panelas e louça velha. Do outro lado da casa uma lareira enorme, aberta, completamente coberta por fumeiro já seco. Alheiras, presuntos, chouriços, etc. No canto uma banca de pedra e prateleiras com muita verdura, batatas, cebolas entrelaçadas num fio a cair do tecto e todo o tipo de especiarias num pote de barro.

Abro a pesada porta de madeira, e sento-me na cadeira de baloiço no alpendre. Fico a observar o nascer do sol enquanto ouço o barulho do pequeno riacho que viaja uns patamares mais abaixo. O sol começa a mostrar a enorme horta cultivada. Dou um salto até lá. Couves, cenouras, alfaces, tomates, pepinos, beterrabas…

Mas de repente algo chamou a minha atenção, vários barulhos que pareciam vir do celeiro, mas não só. Com algum receio aproximo-me, tiro a cancela da porta e abro-a devagar. Dois cavalos acenam-me como se estivessem a dar-me os bons dias. Vejo enormes fardos de feno empilhados ao longo da parede. Em baixo um arado e todo o tipo de utensílios para lavrar a terra. Pipos de madeira cheios de vinho, outros com azeite, batatas espalhadas numa estrutura de madeira elevada um metro e meio do chão, várias caixinhas com sementes dispostas em prateleiras e muitos sacos empilhados, desde cereais, milho, feijão, etc...
Agarro um pouco de feno e umas canas frescas e deito aos cavalos.

Saio do celeiro e anexo ao mesmo encontra-se uma cerca onde já saltitam duas pequenas cabras, o porco ao lado chafurda na lama, as galinhas ainda sonolentas rapam a terra, os patos mergulham no pequeno charco de água e, indiferente a toda esta agitação matinal, a vaca ainda dorme. Trato de dar de comer a todos e quando acabo sou eu que estou com fome.
Entro na cozinha, agarro num balde de ferro e vou ordenhar a vaca. Enquanto o faço sinto o cheiro a pão fresco que vem da casa da vizinha. Como pão acabado de fazer com compotas frescas, frutas variadas apanhadas no pomar e claro, leite de vaca.

O resto da manhã passa a voar. Levar as cabras para o pasto, lavrar a terra que com a chuva ganhou muita erva e, por fim, fazer o almoço.

Acabo de almoçar, durmo uma pequena sesta. Acordo uma hora depois e como ainda esta calor, aproveito para me auto recriar. Arranjo a mesa da cozinha e a porta da entrada. Vou até ao pequeno rio para tentar apanhar algo para o jantar. Acabo por ter sorte pois consigo apanhar dois pequenos barbos e o jantar está assegurado. A galinha viverá mais um dia!

Entretanto começa a cair a tarde e é preciso regar a horta. Depois de regar a horta e tirar as maiores ervas apanho verduras para alimentar aos animais, recolho as galinhas, as cabras e vou tratar do jantar.
Acendo a fogueira na rua e grelho os peixes. Enquanto isso uma panela aquece água onde faço uma sopa. Janto já à luz da velha candeia. No final acendo o cachimbo, abro um livro e penso que a louça vai ter de ficar para amanhã...


sexta-feira, 5 de abril de 2013

EJACULAÇÃO INTENSIVA DA DESINFORMAÇÃO!

imagem da net

Ultimamente não tenho andado muito pela net com receio de apanhar qualquer coisa má. Foram tantas as novas noticias, que tive medo de ser atacado por um qualquer vírus grave que me deixasse sequelas para a vida!

Desde a eleição do novo Papa à saída do Relvas do governo foi uma esfoira incontrolável de acontecimentos que fizeram as delícias da comunicação social, sempre tão necessitada de novidades ruidosas para iludir as massas.

Mesmo agora não estou livre de levar com apontamentos sobre o Sócrates na RTP, da saída do Relvas do governo e provável perda da licenciatura, com novas do Papa, com cheias, com mais medidas da Troika e possibilidade de saída do Euro, com isto e com aquilo. Fala-se de tudo mas fico sempre com a sensação de que ninguém fala do que realmente importa, daquilo que pode mudar efectivamente alguma coisa na vida das pessoas. Fico com a sensação de que nunca se fala da verdade!

E quando alguém tenta é abafado. Quando alguém se aproxima é reprimido. Não é que importe porque em boa verdade acho que as pessoas já não conseguem entender a verdade mesmo que lha expliquem numa linguagem que até um miúdo de 5 anos entenderia.

Acho que se fala demasiado. Especula-se demasiado. Opina-se demasiado. Molda-se a opinião pública com tanta informação que, na sua maioria, não é mais do que merda liquida atirada como barro à parede, com a agravante de não sair facilmente. Mesmo que se esfregue muito fica sempre o cheiro.

Toda a gente tem uma opinião, nem que seja a opinião de outra pessoa qualquer. Chegou-se ao ponto em que a inteligência, cultura, sabedoria (o que lhe queiram chamar) de alguém é medida pelo conhecimento que tem da actualidade, mesmo que esse conhecimento seja baseado em falsas verdades, em opiniões alheias à sua interpretação ou na forma mais simples de ignorância, a da pura burrice e da evidente estupidez cada vez mais natural nas pessoas.

Seria bom que de vez em quando alguém conseguisse quebrar o marasmo e dissesse: “ACORDEM! NÃO ENTENDEM O QUE ESTÁ A ACONTECER? ENTÃO CALEM-SE QUE EU EXPLICO!”
E dissesse a verdade, mesmo que ela seja assustadora, mesmo que poucos a queiram ou consigam ouvir, mesmo que poucos ou ninguém a entendesse…

Não ter televisão tem mais vantagens que desvantagens. Aliás, ainda me lembro do tempo em que tinha televisão em casa e depois de muito dar voltas à cabeça não consigo enumerar uma única vantagem de a ter. Já as desvantagens são muitas.

De uma forma muito genérica, há poucas coisas que nos fodam tanto o cérebro nem sejam tão castradoras da percepção da realidade como ela. Faz mirrar o cérebro até ficar pequenino, limitando a nossa capacidade de pensar e interpretar. E atingiu um nível de aperfeiçoamento tão assustador que o faz sem que a maior parte das pessoas se apercebam que estão a ser estupidificadas.

Sem televisão ganha-se espaço em casa (a minha ainda era das antigas), tenho menos uma coisa a que limpar o pó, pago menos electricidade e, mais importante, fiquei com mais tempo para fazer outras coisas. Ainda não tem impacto directo no número de filhos tal como acontecia no tempo dos meus avós, mas há-de lá chegar…